Não há muitas coisas que sejam tão consensuais como o
prestígio do Jon Bom Jovi junto das mulheres. Foi o corrector automático que
tornou o “Bon” ali de trás em “Bom”. Cá está, até o próprio corrector
automático parece duma forma muito irónica concordar comigo, ou até mesmo
extrapolar a minha observação, porque o sacana do corrector automático, segundo
creio, é assexuado. E eu, com muito fair-play, concedi uma hipótese ímpar para
o corrector automático brilhar. Ele, coitado, que tem as costas tão largas e
recebe as culpas todas quando alguém se envergonha ou encolhe os ombros
numa dúvida irresolúvel a decifrar textos nossos, não é habitualmente credor de
grandes encómios. O corrector automático é como aquele parente meio distante
que um dia destes feneceu: só nos chateava com os seus moralismos e receios de
velho, que é como quem diz, “não escrevas isso, jovem, que há demasiada
discordância entre sujeito e predicado, ou falta aí uma vírgula algures ou esse
neologismo é desadequado”, mas depois até sentimos falta da sua rezinguice e,
quiçá, das belas notas embrulhadas dentro dum envelope por alturas do Natal, ou
por outra forma, das vezes em que por qualquer motivo se desactivou e nos deixou
sem rede para escrever aquele mail em que dava mesmo jeito não produzir erros.
Portanto, deixemos o corrector automático saborear a sua quota de crédito pelas
parvoíces que vamos teclando e reconhecer-lhe o mérito enquanto ele não stressa
com palavras como “pilinha”. É verdade, ele não stressa com pilinha. Mesmo
assim, sem aspas nem capitalização, que às vezes o corrector poderia supor que
Pilinha era o nome próprio da filha da Cinha Jardim e aceitava, à laia de
benemérito. Não, essa era a Pipinha. Pipinha, Pilinha, enfim, lembro-me é que a
Pipinha tinha umas mamas jeitosas que agradavam à pilinha – mnemónica para o
futuro. A versão que eu tenho do Office é muito práfrentex, não fica aos
risinhos quando ouve destas coisas meio pueris, e até “práfrentex” reconhece.
Ah, valente.
É curioso ser o corrector automático a mandar uma ironia bem
gizada e inadvertida, logo o corrector automático, esse Jekyll e Hyde do
pessoal que não sabe escrever, ente sisudo e irascível na detecção de acentos
em falta. Normalmente, é deste tipo de gente “no nonsense” que esperamos as
tiradas mais imprevisíveis e certeiras. Não é como aqueles que julgam que têm
graça e que juntam a este desditoso defeito o pecado de serem lampiões. Agora não
se calam por terem ganho uma coisa qualquer, vêem todos os jogos e programas
pré e pós-jogo, sabem de tudo sobre transferências e rumores e o diabo a quatro.
Tenho um desses espécimes à minha frente e esta abécula sente tanta necessidade
em mostrar a sua típica bazófia em open-space, onde serei o único não-lampião (e
já estou vacinado contra essa doença, felizmente), que até fala para mim mesmo
quando tenho os phones colocados no volume máximo e se percebe na copa que
estou a ouvir música. É mais forte do que eles, é mais forte do que uma
Cicciolina numa praia de nudistas e com comichão nas mamas, está-lhes no
sangue: têm de ser fanfarrões dê por onde der. “Lá vem merda”, penso eu, sem
sequer olhar directamente para aquela boquinha torpe donde sai um arrazoado já
regurgitado por mais não sei quantos da manada e repetido ad nauseam. Latim,
lampiões. O Jorge Mendes vende-vos aulas disto por 15 milhões. Claro que “lá
vem merda”, aliás, o lampionismo presta-se muito a isto e a tipos que exclamam amiúde
“mai’nada!”, “era pô-los todos a arder com um barrote pelo cu acima!” e “uma
seven-épe aqui para o meu mai piqueno!”. Não, destes gajos só podemos esperar
que fiquem calados durante muito tempo. Nunca sairá dali nada de génio, mas
apenas trivialidades que cultivam uma semente de irritabilidade que vai
crescendo e dar uns suculentos frutos de enjôo lá mais para o final do Verão. A
antítese do Jon Bon Jovi, cuja aura de perfeição entre o mulherio perpassa
épocas e é tão poderosa que o peido que mandou em 1986 e ficou guardado para
envelhecer entre cascas de carvalho numa cave húmida durante este tempo todo
cheira agora a Chanel para as admiradoras. Que são, no fundo, todas as mulheres
do planeta excepto a Dina, as amigas da Dina e a Joana Amaral Dias, que detesta
toda a gente e emprega o seu pior sotaque de esquerda-caviar para demonstrar o
desprezo que sente do mundo que lhe é tão inferior. Um dia perceber-se-á que a
má-disposição da Joana advém do facto de as suas mamas, embora volumosas, estarem
aquém da dimensão das suas orelhas – quando ela finalmente perder o pudor em
mostrar as orelhas.
Com efeito, a unanimidade do Jon Bon Jovi é indiscutível. Já
o era há nos anos 80, continua a sê-lo na era das redes sociais, num fenómeno
de longevidade sem precedentes. O tipo até quando tiver 90 anos deverá ter
gajas a saltarem-lhe para cima, literalmente, porque nessa altura o Bon Jovi já
não terá capacidades para comer alguma gaja a não ser que esta gaja o coma. Não
há gaja capaz de dizer mal do Bon Jovi. Perguntem a qualquer gaja acima dos 30
como é que é. Do Brad Pitt podem dizer “ah, já passou a sua fase e aquela cena
com a Angelina desgastou-o”, sobre o Di Caprio argumentam que “tem cara de
menino e eu gosto de homens mais brutos”, em relação ao Dwayne Johnson peroram
que “é demasiado bruto e eu gosto deles mais gentis”, o Tom Cruise “meteu-se
com os Cientologistas e acho que é um baixote”, o Nelson Évora “é preto”, o Robert
Pattinson “parece lavado em lixívia”, o Ricky Martin “pega de empurrão, é uma
pena, mas pronto, já se sabe que os melhores apaneleiram…”, o Nuno Gomes nem
sequer era um homem, o filhos do Tony Carreira não prestam porque são avecs
xungas, o Benedict Cumberbatch, malgrado o seu charme britânico, “parece um
freak” e o Justin Bieber, esse, bem, “é uma criança”, se bem que o Bruce Willis
“já é um bocado velho demais”. Mas sobre o Jon não há nada a apontar. Especialmente,
os seus dotes enquanto homem, mais do que enquanto cantor. Pois, suspeito que o
Bon Jovi poderia cantar uma versão do “Ai Ai Ai Minha Machadinha” e mesmo assim
venderia 1 milhão de cópias desse single, sem esforço. Todas compradas por
mulheres e pelos amigos do Cláudio Ramos. Bastaria apenas uma sessão
fotográfica de promoção que sublinhasse a sensualidade do seu sorriso de lábios
carnudos combinada com a profundidade arranca-almas do seu olhar. “Parece o Vinho do Porto”, “até de lycra e permanente tinha estilo”, “foi sempre muito
fiel à mulher”, “têm pêlos no peito”, “têm alguns pêlos no peito, mas não são
muitos”, “fica bem com qualquer tipo de cabelo”, enfim, alguns dos elogios mais
visíveis, culminando no “esse gajo é bom todos os dias”. E não há mais ninguém
assim, que congregue tamanho apoio feminino. Nem na minha terra, nem em lado
algum. O Bon Jovi é único e irrepetível. É um facto deveras assinalável:
consegue unir todas as gajas, mesmo as que dantes odiavam-se de morte porque
uma vez houve uma que foi comprar um lenço à Bershka que era o mesmo que a
outra tinha experimentado com ela no outro dia mas que não chegou a comprar
porque ela tinha-lhe dito que o que lhe ficava mesmo bem eram as pulseiras que
tinha visto num daqueles quiosques à entrada do shopping e a outra tinha ficado
com dúvidas e acabou por ficar mesmo com as pulseiras em vez daquele lenço e
agora até já perdeu as pulseiras numa mala qualquer e a outra anda aí a
pavonear-se com um lenço que podia ser o dela e já não pode nunca mais ser,
porque seria altamente embaraçoso ela ser vista com um lenço igual à da outra,
a vaca, bem-feita o teu filho ser autista, o teu marido ser repositor no Jumbo
de Alverca e teres uma pele toda cheia de sinais e pontos negros nojentos que é
uma vergonha, que é para servir de castigo. Pausa para respirar. O Bon Jovi
constrói pontes e sana as diferenças. Sim, até as palestinianas e as israelitas
deixam de lado os seus morteiros e cintos de bombas e juntam-se todas num
deleite profundo, se é o Jon Bon Jovi que está a passar lá na M80 do Médio
Oriente, especialmente se for a “Always” ou a “Bed Of Roses”. “Ahhhh…”,
suspira-se colectivamente em árabe e hebreu e pronto, soltam-se coraçõezinhos
imaginários no ar e larga-se o cocktail molotov no chão, lá está mais um mártir
mas que se lixe, quando o Jon afirmou “I wanna lay you down in a bed of roses”
elas juraram que ele era o tipo mais romântico de sempre e que tudo valia a
pena. O poder do Bon Jovi é imenso. É tão grande que quando ele diz “yeah, I
will love you baby, always, and I'll be there, forever and a day,
always” é ver as gajas a derreterem-se qual gelado ao sol e as suas
partes baixas a encharcarem-se de tal forma que se fizéssemos *schlek, schlek*
nos seus grandes lábios seríamos salpicados por uma onda de fluido vaginal que
nos faria parecer um McNamara à deriva no Canhão da Nazaré. Isto é mais visível
nas gajas que têm grandes lábios mesmo grandes, uma membrana protuberante como
se fosse um molusco e onde é até possível formar uma pequena poça de água, havendo
a sorte de existir uma concavidade com algum jeitinho. Há gajas assim e a maioria
delas tem vergonha de possuir aquelas peles dependuradas, mas até poderiam
fazer um figurão num concurso de sombras chinesas. As outras apenas molham as
cuecas e, em casos extremos, encharcam o chão por onde passam, como se
acometidas por uma incontinência aguda. Uma incontinência destas tem um
responsável: Jon Bon Jovi.
Não conheço assim tantas mulheres, mas nunca conheci nenhuma
gaja que desdenhasse o Bon Jovi. Até mesmo aquelas que fugiam a sete pés de
baladonas ou de hair metal admitem, no mínimo, que o Jon é o seu “guilty
pleasure” e escutam-no, não tanto pelo prazer do som, mas pelas sensações oníricas
que a sua voz proporciona. Mais do que ser “um tipo que não é mau”, o Jon é,
da neta à avó, da maníaco-depressiva à passiva-agressiva, da tola até
à doutorada, da freira que esconde dildos à puta que lê poesia lírica setecentista,
“realmente um tipo bom”. Bom em todas as vertentes que apaixonam, incluindo
bricolage, estacionamento paralelo e um pénis grande e grosso, desenhado de
forma ergonómica para encaixar em qualquer vagina. Bom Jovi, como este
corrector automático teima em fazer-me escrever.
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