26 junho 2012

Goraz (Özil no "Desafio Total")


O Özil parece um peixe. Fora d’água. Tudo por causa dos olhos, claro, como se houvesse mais algum elemento distintivo no Özil. Quer dizer, ele até tem boa técnica e estará no Top 100 dos melhores jogadores mundiais em 2012, possui um “Ö” com trema e tudo, tal como os Spinal Tap, mas quem tem uns olhos daqueles já arranjou instantaneamente um elemento distintivo. Aqueles olhos são mais que esbugalhados. Aqueles olhos fazem o Steve Buscemi parecer japonês. E, para mim, olhos assim lembram-me os olhos dos peixes. Porquê? Se vós não sentis porquê, então também não vou perder tempo a explicar-me.

Se calhar, o mais correcto seria lembrar-me dos olhos do Schwarzenegger no “Desafio Total”, quando parte o capacete ao cair no solo de Marte e começa a inchar. É. Özil pode ter vindo de Marte. Para a Merkel, tão experimentada em geografia, Turquia ou Marte deve ser praticamente a mesma coisa. Mas buscar a referência do Schwarzenegger é capaz de ser apenas perceptível aos Nunos Markls desta vida, sendo peixe uma coisa muito mais acessível para estabelecer uma comparação. Universal ou não, não sei, mas é a minha imagem mental.

O peixe na foto é um goraz. Era o que vinha na descrição. Mas eu de peixes percebo pouco. Podia ser uma tainha, robalo ou pargo. Ou esse espécimen tão vetusto que é o chicharro. Só sei reconhecer polvos, lulas (que nem sequer são peixes na verdadeira acepção do termo), salmonetes, sardinhas, salmões, bacalhau e peixe-espada. Porém, os três últimos só quando cortados, fatiados ou às postas e a sardinha só quando deitada sobre uma cama de sal que realce o brilho da sua epiderme ou esparramada numa fatia de pão untada com a sua própria gordura carbonizada. Escrito assim, até parece que a sardinha é uma vaca – vaca de “rameira” e não vaca “vaca" –, de tão receptiva a deitar-se que é. E, se calhar, até é a mais meretriz de todas as espécies de peixes. Como já disse, percebo pouco de piscicultura. Ah, e também sei quem é o Nemo. Mas esse é um palhaço. Vamos acreditar que o peixe da figura é um goraz. Não sei se é o peixe mais representativo em termos de “olhos esbugalhados”. É com certeza um peixe com um nome assaz bonito, cujos olhos são minimamente ilustrativos do meu ponto. E tem um perfil elegante que, vai lá vai, não sei se poderá ser atingível por um arenque. Ou mesmo pelo próprio Peixe, o Emílio, que foi melhor jogador do Portugal-91 e que possuía um aspecto um bocado desleixado mesmo no pináculo da moda grunge.

Eu não sei se gosto de goraz, não me lembro de ter comido algum (é provável que sim), nem tão pouco conheço o Özil, que nem sequer é da minha terra – como já concluímos atrás, ele provavelmente é um acidente marciano, bem mais infeliz que a mulher com três mamas (outra referência ao “Desafio Total”). Mas conheci um tipo que tinha olhos de peixe. Não tão esbugalhados como os do Özil, mas os maiores que eu conhecia pessoalmente. Era a minha referência pessoal. Até que, num destes dias, tive de refazer as minhas concepções mentais: vi uma tipa que batia o Özil por muito, batia um goraz de goleada. Ainda por cima, temos percursos e horários semelhantes, pelo que já a revi mais um par de vezes para reafirmar a minha certeza: ela é “O” peixe. Ou melhor “A” peixe.

São olhos esbugalhadíssimos, pulando das cavidades, ameaçando sair disparados como uma bala. Parece que está a usar daqueles óculos de comédia, cujos olhos saltam através de molas, mas nela é a sério. Os olhos estão a saltar, como se a atmosfera de Marte estivesse a brotar de dentro dela (segundo o “Desafio Total”). Nota-se o vermelho da carne por baixo, as veias a palpitarem nas partes exteriores dos seus círculos oculares. E depois tem uns óculos de graduação acentuada, que parecem ainda aumentar mais a dimensão dos seus olhos saídos. Um exemplo exagerado do que é ter “os olhos bem abertos”, sem contudo ver nada de especial. Nem se vislumbram pálpebras, nem pestanas, nem nada; aquilo é tudo um par de olhos gigante. Ver aqueles olhos é uma coisa que só visto. Tomara ela ter uns olhos de goraz. Ou até do Özil, vá lá.

Enfim, eu acredito que é possível ela ser feliz. O Özil também pode, e deve, ser feliz. Aliás, deviam entender-se às mil maravilhas. São tipos, como se costuma dizer, “de vistas largas”. Só o goraz, o pobre goraz da foto, é que já não tem oportunidade de fazer mais nada que não conhecer o sistema digestivo de algum tipo qualquer. Se é que aquilo é mesmo um goraz.