30 maio 2014

Seal

Não há apenas uma pessoa parecida com o Seal. Eu já vi vários e conheço alguns. Na verdade, todos os pretos são parecidos, desde que rapem a carapinha e não sejam etíopes desnutridos com maçãs do rosto extremamente salientes. São eles e os chineses. É um facto assente no nosso senso comum ocidental. Há sempre aquela estrutura comum nos pretos que, dependendo da maior ou menor composição muscular, os cataloga entre porteiros de discoteca, tipos do bairro ou obesos com a finalidade cómica de imitarem a bola 8 do snooker. A preta distingue-se do preto por ter um carrapito na tola. Simples. Depois o que muda é o tom de escuridão, que pode ir do café com leite de Cabo Verde – ou café com bagaço, talvez seja mais apropriado –, ao 100% cacau da Guiné. É isso que os diferencia quando tiram fotografias sobre um fundo escuro, se vai ser visível o seu rosto ou se apenas os dentes impecáveis e os olhinhos com um bocadinho de branco, como se fossem aquele gato maluco da Alice no País das Maravilhas, do qual não sei o nome e não me apetece ir pesquisar. No fundo, é uma estratégia de camuflagem enraizada na génese dos tempos: toda a gente sabe que lá em África os felinos costumam atacar à noite, daí a lógica.

O Seal, porém, não quis ficar igual à restante maralha de magrebinos e subsarianos. Porque ele é uma estrela do entretenimento que papa louras e faz filhos mulatos que têm tudo para serem jogadores de futebol excepcionais pelas suas intrincadas complexidades genéticas. Isto é, ele corporiza o “american dream” dos pretos. Como tal, o Seal tem uma particularidade diferente dos demais pretos: possui cicatrizes enormes. Noutro contexto, seria um “scarface” medonho. Mas como fica mal ostracizar minorias e há sempre aquele complexo de culpa latente nos brancos, então as cicatrizes até lhe conferem um aspecto sexy. Perguntem à Heidi. A Klum, não a menina dos Alpes, que esta se visse um preto era capaz de ir perguntar ao avô para ir ordenhá-lo. Sim, porque lá para a Suíça não se vêem pretos amiúde e não estou a referir-me às fotografias tiradas à noite: os pretos simplesmente não vão para lá porque os suíços não apreciam imigrantes e, valha a verdade, os pretos no meio da neve dão demasiado nas vistas e o Gelson Fernandes já lhes sobeja no que a negróides concerne.

E porque é que o Seal tem aqueles rasgos indisfarçáveis na tromba? Pode ser o segredo mais bem guardado do mundo a seguir ao 4º milagre de Fátima, que funcionou como uma espécie de “bonus track” dos três segredos originais, autênticos “hits” católicos do século XX, e que era o segredo que toda a gente queria mesmo ouvir, como é comum ocorrer entre os mais devotos a uma causa. Mas eu tenho uma explicação: o Seal é canadiano ou passou uma temporada no país da folha de plátano. E, como toda a gente sabe, no Canadá apreciam chacinar focas. “Seal” é “foca”, numa tradução literal, caso não saibam. Pois é, no Canadá, à falta de melhor para combater a modorra de invernos intermináveis e porque não dá para jogar hóquei no gelo “outdoor”, juntam-se umas foquinhas inocentes nas praias gélidas deles e, catrapumba!, dá-se-lhes um arraial de porrada com o auxílio de umas pás afiadas. É um massacre aberto a miúdos e graúdos. Tudo lhes serve. A fome de emoções fortes é tanta que chega-lhes apanhar uma foca mais distraída que esteja à mão de semear. Depois laceram-lhes o focinho, devastam-lhes as entranhas, limpam o sangue nos restos mortais e seguem para a próxima foca. Que até pode ser bebé. É limpar o sebo a quantas possam, todas ao mesmo tempo, sem remorsos alguns. São apenas focas, seres vivos descartáveis, pensarão os canadianos, é apenas a lei do mais forte a impor-se de uma maneira tão directa quanto cruel e uma espécie de controlo populacional que Deus delegou na ilustre nação que viu nascer os Nickelback. É prazer pelo prazer, assassinato por assassinato. As focas fazem aquelas caras docinhas, quais cães abandonados, e são usurpadas da sua vida quando pensavam que estavam a ir para uma estância balnear. Elas vão ao engano. Quando chegam ao resort, não é preciso muito tempo para perceberem o logro onde se meteram, como se tivessem sido enganadas por um promotor turístico manhoso que publicitava espeluncas sem o mínimo de condições sanitárias como bungalows com vistas maravilhosas para o mar. As focas metem-se para ali de papo para o ar, muito na sua, à espera que alguém lhes venha explicar aquela decepção e depois são brutalizadas num ápice, nem dá para pedir reembolso. Livro de reclamações nem vê-lo e, mesmo que existisse, estaria empapado e ilegível pelas vísceras que saltam em cada golpe desferido com sádico prazer. Acontece todos os anos: focas a atafulharem os areais do Canadá convencidas que, sim senhor, o Canadá é um pais civilizadíssimo, para depois levarem umas quantas pazadas pelos cornos abaixo desses sujeitos tão distintos e tão melhores que os fúteis dos EUA. O Seal, sortudo, teve a felicidade de se safar dessa barbárie e só apanhou de raspão, porque o canadiano que lhe queria chamar um figo estava bêbado e falhou miseravelmente a tentativa de rachar-lhe a cabeça em dois. Isto pressupõe que o Seal migrou em conjunto com as focas, o que é bem plausível, porque se o Tarzan cresceu no meio de macacos, o Seal foi criado por uma foca foragida do circo. E porque não? O Seal adorava o nutritivo leite de foca, de peixinho cru e de banhar-se em águas frias a fugir de ursos polares e por isso é que ficou com aquele corpanzil. Tudo faz sentido. Já o viram a dominar uma bola com o nariz? E a forma como abre uma lata de sardinhas? Irão surpreender-se.


Coitado do Seal? O gajo, para compensar as cicatrizes desse infeliz incidente canadiano, come gajas em barda, encaixa discos de platina com lamechices, desperta os sentimentos instantâneos de simpatia que estavam reservados ao Quasimodo e, aposto, deve ter uma verga monumental. Isto também faz parte do nosso senso comum e da experiência recolhida em vários vídeos disponíveis em sites da especialidade. Coitados são os seus sósias que, só por não terem cicatrizes, estão destinados a serem meras figuras decorativas deste armazém lúgubre em que se tornou a humanidade. Eles e as focas.