25 fevereiro 2014

Kristen Stewart

Sei lá quem é a Kristen Stewart. Tive de procurá-la pelos cantos desse grande globo que é a Internet. Já se sabe, a Internet é tipo um Aki, mas maior e melhor, porque tem coisas que não são só para a casa e não precisa de concorrer com o Leroy Merlin. Leroy Merlin é um nome multifacetado. Se for dito com uma entoação texana, parece um jogador de basquetebol afro-americano recrutado no draft duma universidade do Alabama pelos Minnesota Timberwolves (ainda existem?); se for dito com pronúncia francesa, parece um artigo de luxo, quiçá exposto em Versalhes com prioridade sobre as panelas da Joana Vasconcelos; se for dito em português, parece parvo. Grandes superfícies dedicadas à bricolage são também, genericamente, sítios a atirar para o parvo, onde lésbicas piscam os olhos umas às outras, assim naquela de desafiar as Martinas Navratilovas dos subúrbios a sacarem das suas fitas métricas do bolso traseiro das suas calças de ganga e compararem tamanhos, nem que seja do lápis amarelo e preto que carregam orgulhosamente por cima da orelha, numa espécie de recado aos mais desatentos que ainda não tinham reparado no penteado curto com aroma a Old Spice. É assim o mundo formidável dos grandes armazéns de bricolage. Lugares onde há vasos, azulejos, motosserras e sacas volumosas de coisas pesadas, que hão-de servir para qualquer coisa lá para o quintal das traseiras ou apenas para o cestinho do gato, e onde é possível andar com o rego traseiro à mostra e parecer uma autoridade no assunto, tudo isto para o deleite de gente bruta ou então da simples parada de estranhos curiosos.

Lá fui à procura da Kristen Stewart. Tinha uma vaga ideia de que ela pertencia a uma série de vampiros. Reconhecia-a como ligada a um fenómeno juvenil qualquer, a fronha não me era estranha. É claro que não era dos Tokyo Hotel, dos quais já ninguém se lembra, nem dos One Direction, que hão-de cair no esquecimento até 5ª feira. Era daquelas pitinhas americanas que enchiam as capas das Bravos e afins, bem embrulhadinhas num plástico ranhoso que é para que ninguém fanasse aqueles dois brincos rosa-pindéricos que atraem miudinhas dos 10 aos 16 como aqueles electrocutores de luz roxa atraem as moscas nos bons velhos estabelecimentos de restauração pré-ASAE. A metáfora mosca/miudinhas não é inocente. E lá a encontrei. Era mesmo duma série de vampiros. Parece que vampiros estão ou estiveram recentemente na moda. Quero acreditar que foi a forma mais inteligente dum qualquer nerd com medo de ir à praia com os amigos fazer com que a palidez doentia parecesse cool. Foi assim durante algum tempo, era ver as pitinhas vestidas de preto e a fugir do sol para trocarem chochos umas com as outras nas escadarias mais recônditas que pudessem encontrar, ambicionando ter caninos protuberantes, bebendo groselha com pouca 7-Up como se fosse sangue e jogando o jogo do copo para poderem dizer “o copo mexeu-se mesmo e tive um amigo meu que falou com uma rainha egípcia que conheceu a mãe dele noutra encarnação e ele nunca mais ficou a bater bem da tola” com toda a propriedade. Mas já houve a moda do Diablo, dos gigantes porta-chaves gelatinosos que pareciam o vírus da gripe, dos dinossauros, do Harlem Shake e até a Casa dos Segredos fazia as parangonas de qualquer mural de Facebook que se preze. Ou ainda faz? Ainda faz? A sério? Mas não me tinham dito que a crise já tinha acabado?

Ser estrela feminina para adolescentes e pré-adolescentes femininas deve ser tramado. As miudinhas devem odiá-la. Queriam ser como ela para poder sentir a mordedura do Robert Pattinson (também apanhei-o numa curva da Internet), mas invejam-na de morte e matavam-na aos guinchos e repelões no cabelo se a apanhassem à frente. Os miúdos também não lhe ligam muito por aí além, já que ainda estão ocupados a jogar à bola ou querem cenas mais hardcore, pelo que o rabo duma Carolina Torres é-lhes mais apelativo que aquela figurinha desenxabida da Kristen. Já a estrela masculina é “fofinha” e “queriducha” para elas e um “paneleiro” para eles. As estrelas adolescentes têm outro obstáculo nas suas vidas: quando começam a crescer fazem figuras tristes das quais demoram a recuperar. Veja-se o caso da Hannah Montana, que agora é Miley Cyrus e dá o cu ao mundo, e da Britney Spears, que precisou da mão do Will.I.Am para voltar à velha forma xunga-chique, só para citar dois exemplos. Os gajos geralmente refugiam-se no álcool e drogas e engordam para caraças, almejando ser como o Mickey Rourke e desejando que a sua desfiguração precoce lhes renda algum papel de relevo no futuro, para depois irem escrever livros de auto-ajuda onde o bottom-line é “tenham juizinho e não façam como eu fiz” e cujo destino é a congregação de poeira ao lado dos livros da Margarida Rebelo Pinto e do gajo do Big Brother. Ser estrela adolescente é garantia de um passado embaraçoso que nunca mais as abandonará e que tende a torná-las personagens para lá do patético. A Ana Malhoa também foi um projecto de estrela adolescente. Penso que não posso ser mais explícito.

Eu tenho uma fotocópia da Kristen Stewart a morar perto de mim. Pitinha dos seus 16 anos, pose distante e aluada, tão característica dos adolescentes, com os seus adornos típicos e roupa de marca, trocando mensagens abreviadas através de um chat qualquer do seu smartphone. Tem a cara assustadoramente parecida com a Kristen, com a notável similitude a provir essencialmente do seu queixo. Sim, o queixo da Kristen Stewart, aquele afunilar de linhas que faz a cara parecer um triângulo isósceles invertido. Dantes só havia o queixinho da Reese Witherspoon, que também é parecido com a da Kristen. Mas o queixo da Reese transpira a bimbice, enquanto que a Kristen nem sequer é loura para ser tão bimba. Para lá caminhará, é só preciso termos calma. Esta pitinha tinha futuro enquanto dupla da Kristen. Tem estilo, um certo swag restringido e discreto quando retira os óculos de sol e revela uns olhos redondos e esverdeados, mantendo os polegares a tocar no ecrã do seu i-Phone Android Touchscreen Appstore X-5000 Deluxe Pro. Imagino-a no seu quarto pejado de posters e de roupa espalhada pelos cantos, fugindo à chamada da mãe para o jantar, aperfeiçoando a arte de “estar chateada”. Adolescência tem tudo a ver com aborrecimento. É aborrecido ser e é aborrecido não se ser durante a adolescência. Os planos vão e vêm neste período de muitas marés, porém aquele queixo já não irá mudar por aí além. Que grande queixo pequenino, julgava que só na América é que havia queixos assim. Se calhar, a pitinha até é filha de um relacionamento proibido de um desses Elders que andam para aí, que acho que são mórmones e andam sempre aos pares, mas nem todos devem ser exemplarmente devotos e alguns devem dar as suas facadinhas por aí, mesmo que não abordem ninguém directamente e a sua toilette consista exclusivamente em camisas brancas, calças pretas e gravatas escuras do mais religiosamente unsexy que pode haver – e por alguma razão a igreja deles é dos “últimos dias”, aquilo não tem mesmo saída. Acho sinceramente que esta Kristen até tem potencial para dar mais nas vistas dentro de pouco tempo que a própria Kristen, e não falo das capacidades pseudo-vampirescas. Só tem é de sobreviver incólume à adolescência, o que já é um grande desafio.


Quem também está a ficar com um queixo tipo Kristen ou tipo Reese é a Frances Bean, a filha do Kurt Cobain. Mas não vão para o Aki falar destas coisas, eles não saberão reconhecer a genialidade deste gossip e acabarão por recomendar que tragam o casquilho da próxima vez para poderem ajudar.