O Özil parece um peixe. Fora d’água. Tudo por causa dos
olhos, claro, como se houvesse mais algum elemento distintivo no Özil. Quer
dizer, ele até tem boa técnica e estará no Top 100 dos melhores jogadores
mundiais em 2012, possui um “Ö” com trema e tudo, tal como os Spinal Tap, mas
quem tem uns olhos daqueles já arranjou instantaneamente um elemento
distintivo. Aqueles olhos são mais que esbugalhados. Aqueles olhos fazem o
Steve Buscemi parecer japonês. E, para mim, olhos assim lembram-me os olhos dos
peixes. Porquê? Se vós não sentis porquê, então também não vou perder tempo a
explicar-me.
Se calhar, o mais correcto seria lembrar-me dos olhos do
Schwarzenegger no “Desafio Total”, quando parte o capacete ao cair no solo de
Marte e começa a inchar. É. Özil pode ter vindo de Marte. Para a Merkel, tão
experimentada em geografia, Turquia ou Marte deve ser praticamente a mesma
coisa. Mas buscar a referência do Schwarzenegger é capaz de ser apenas
perceptível aos Nunos Markls desta vida, sendo peixe uma coisa muito mais
acessível para estabelecer uma comparação. Universal ou não, não sei, mas é a
minha imagem mental.
O peixe na foto é um goraz. Era o que vinha na descrição.
Mas eu de peixes percebo pouco. Podia ser uma tainha, robalo ou pargo. Ou esse
espécimen tão vetusto que é o chicharro. Só sei reconhecer polvos, lulas (que
nem sequer são peixes na verdadeira acepção do termo), salmonetes, sardinhas, salmões,
bacalhau e peixe-espada. Porém, os três últimos só quando cortados, fatiados ou
às postas e a sardinha só quando deitada sobre uma cama de sal que realce o
brilho da sua epiderme ou esparramada numa fatia de pão untada com a sua
própria gordura carbonizada. Escrito assim, até parece que a sardinha é uma
vaca – vaca de “rameira” e não vaca “vaca" –, de tão receptiva a deitar-se que é.
E, se calhar, até é a mais meretriz de todas as espécies de peixes. Como já
disse, percebo pouco de piscicultura. Ah, e também sei quem é o Nemo. Mas esse
é um palhaço. Vamos acreditar que o peixe da figura é um goraz. Não sei se é o
peixe mais representativo em termos de “olhos esbugalhados”. É com certeza um
peixe com um nome assaz bonito, cujos olhos são minimamente ilustrativos do meu
ponto. E tem um perfil elegante que, vai lá vai, não sei se poderá ser atingível por um
arenque. Ou mesmo pelo próprio Peixe, o Emílio, que foi melhor jogador do
Portugal-91 e que possuía um aspecto um bocado desleixado mesmo no pináculo da
moda grunge.
Eu não sei se gosto de goraz, não me lembro de ter
comido algum (é provável que sim), nem tão pouco conheço o Özil, que nem sequer
é da minha terra – como já concluímos atrás, ele provavelmente é um acidente
marciano, bem mais infeliz que a mulher com três mamas (outra referência ao
“Desafio Total”). Mas conheci um tipo que tinha olhos de peixe. Não tão
esbugalhados como os do Özil, mas os maiores que eu conhecia pessoalmente. Era
a minha referência pessoal. Até que, num destes dias, tive de refazer as minhas
concepções mentais: vi uma tipa que batia o Özil por muito, batia um goraz de
goleada. Ainda por cima, temos percursos e horários semelhantes, pelo que já a
revi mais um par de vezes para reafirmar a minha certeza: ela é “O” peixe. Ou
melhor “A” peixe.
São olhos esbugalhadíssimos, pulando das cavidades,
ameaçando sair disparados como uma bala. Parece que está a usar daqueles óculos
de comédia, cujos olhos saltam através de molas, mas nela é a sério. Os olhos
estão a saltar, como se a atmosfera de Marte estivesse a brotar de dentro dela
(segundo o “Desafio Total”). Nota-se o vermelho da carne por baixo, as veias a
palpitarem nas partes exteriores dos seus círculos oculares. E depois tem uns
óculos de graduação acentuada, que parecem ainda aumentar mais a dimensão dos
seus olhos saídos. Um exemplo exagerado do que é ter “os olhos bem abertos”,
sem contudo ver nada de especial. Nem se vislumbram pálpebras, nem pestanas,
nem nada; aquilo é tudo um par de olhos gigante. Ver aqueles olhos é uma coisa
que só visto. Tomara ela ter uns olhos de goraz. Ou até do Özil, vá lá.
Enfim, eu acredito que é possível ela ser feliz. O Özil
também pode, e deve, ser feliz. Aliás, deviam entender-se às mil maravilhas. São
tipos, como se costuma dizer, “de vistas largas”. Só o goraz, o pobre goraz da
foto, é que já não tem oportunidade de fazer mais nada que não conhecer o
sistema digestivo de algum tipo qualquer. Se é que aquilo é mesmo um goraz.
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