Quando for chefe dela, vou olhar-lhe de cima para a
sua tibieza latejante e ao tocar-lhe ao de leve na cara, apenas com a parte de
trás de dois dedos, dir-lhe-ei "do not disappoint me...". Como o Herr
Flick com a Helga. "You may suck me now". Mas com a postura dum Alan
Rickman e os diálogos dum Jeremy Irons. "Mind your teeth. Don't make me
lose my temper". Digo eu com as mãos nos quadris, fleumático mas
ameaçador. Mesmo à patrão. Até teria suspensórios e cabelo brilhante puxado
para trás. Vários troféus de torneios de golfe espalhados atrás na extensa secretária
pesada, escura e luxuosa. Uma foto da equipa toda sorridente lá pelo meio
comigo no centro. O sorriso mais cativante de todos. E as melhores marcas de roupa também. O diploma do MBA exibido
com orgulho na parede. Os desenhos dos filhos com letras toscas onde se lê
“amo-te pai” perdidos no meio de memos de sociedades de advogados. Uma moldura com a foto de uma família feliz num plano de destaque. Um candeeiro
daqueles que traz extrema felicidade nos Sims. Não há lareira, mas é como se
houvesse; na penumbra do soalho alcatifado, ela estaria de joelhos e uma sombra
alaranjada dissimularia as suas feições, agravando as minhas.
Eu vestiria uma camisa aparentemente branca, mas já
com nódoas permanentes de sémen no fundo, que lhe conferiria uma matiz
amarelada. Isto porque elas mamavam muito e nem sempre engoliam tudo, como deviam.
Também há amiúde um jacto que desenha uma órbita imprevisível e os pingos
finais que depois escorrem e colam-se ali entre o umbigo e a pila, como se
fosse uma brilhantina para aquelas pilosidades que deixa uma espécie de resíduo
salino. É desagradável. E nessa altura eu esbofeteio-as e digo-lhes
"you're unworthy of tasting my flesh", mas concedo-lhes sempre uma
nova oportunidade e elas acho que até gostam de ficar com as bochechas rosadas
com a marca dos meus dedos. Às vezes elas aguentam a esporra na parte inferior
do maxilar, inundando a língua e o espaço entre os dentes e o lábio de baton de
uma meita em castelo, com algumas bolinhas, qual jacuzzi de esperma na boca
delas. Engoliam tudo aquilo, prestimosas. E sorriam, com a secreção a descer
até à carpete. Pareciam bonequinhos de cera esfomeados, famintas por uma
guloseima. Still, shirts are better plain white. Yellow means disengagement. Carelessness.
You don’t want to be careless, do you? Do you, jizz sucker?
Depois ela iria para a casa, sonhar com escravos
sexuais plasmados de cabedal negro ao aquecer a sopa no microondas. O caminho
todo no seu Hyundai sintonizada na M80, acompanhada pelo oscilar dum ambientador
com enjoativo aroma a baunilha pendurado no retrovisor e ela a fantasiar com as
veias pulsantes dum belo falo pré-ejaculação na ponta do seu nariz por entre a
azáfama do trânsito vespertino. Passaria aquela dos Blondie que risca sempre no
final e entra em loop na parte do sintetizador e do “la-la-la,
lalalalala-lalala-lala” e ela deslizaria a língua pelos lábios, naquele tique
já tão corriqueiro de sentir a pasta tépida nos cantos da sua boca gulosa. Chicotes
e algemas que estalariam na sua mente com o tlim da sopa pronta. Pepinos que teriam
uma consistência tão tentadora e que provocariam calores se os tocasse,
fechasse os olhos e imaginasse naughty things. Iria para o puff deslizar os dedos
pelo tik-tok na tentativa de se distrair, porém imagens de caralhos tesos e
impregnados dum fedor testosterónico assaltar-lhe-iam a consciência, imprimindo
selvagens desejos de tudo querer consumir, toda aquela torrente de esporra
viscosa, semente de vida e objecto pastoso de prazer, ícone da masculinidade em
cheio nas suas pestanas, de leve no seu nariz, em pinceladas esporádicas no seu
cabelo. Ah, era bom sorver o sumo do orgasmo, o quente derramado nela, marfim
derretido duma tromba pujante, a recompensa pela sua submissão voluptuosa. E
porque dizem que faz bem à pele. Ninguém sabe ao certo. Diz-se que sim.
Há iogurtes naturais que sabem pior. Isto é o que diz
a Elsa. Diz que no Aldi há para lá uns dos mais baratos que levou só para
experimentar que tinham extracto de líchia ou lá o que era que ainda sabiam
pior que a meita do Roberto. O Roberto era o marido da Elsa. Para a Elsa, é um
dado adquirido para todo o mundo que “Roberto” é o “meu marido”. Mas ela diz
que beber esporra não é bem a cena dela. Que até já engoliu "mas mais por
engano, o Roberto entusiasmou-se um bocado e prontos, foi mais coiso". Que
o pior até são os pintelhos, quando se enfiam entre os dentes e depois é
preciso dar um beijinho nos filhos. E os avós notam. O Sr. Figueiredo bem
pensava lá com os seus botões "macacos me mordam se aquilo não é um
pintelho mesmo ali a sair dos dentes da minha filha. A porca esteve a mamar na
gaita daquele estúpido do Roberto outra vez. Caralhos ma fodam, a quem é que
ela saiu?". É que o Sr. Figueiredo daria o cu e cinco tostões para se vir
na boca duma gaja qualquer. Desde jovem, de quando batia umas punhetas no meio
do milheiral a pensar nas maminhas empinadas da Vitória, que ansiava por vir-se
mesmo em cheio para as trombas delas. Foda-se, à homem! Com a Lígia, sua
mulher, não. Não há aquele ambiente. Já não é possível dissociar a dentadura
dentro do copo na mesa da cabeceira desta relação. Em linguagem rural diz-se que
a Lígia “seca o pessegueiro”; as novas gentes estão mais acostumadas ao termo
“turn off”. Bom, bom, era papar a amiga da filha, que é caladinha mas
jeitosita, umas boas mangueiradas de meita naquelas ventas só lhe fariam era
bem! Para ver se espevita, a moça! E depois porque deveria ser óptimo sentir
aquela serva tão quieta a levar com o jacto de esperma em cheio na covinha
entre o nariz e o lábio e estes, grossos, a serem chapados com generosas pingas
aquecidas. Sem uma palavra a não ser a respiração arfante e as pestanas dela a
tentarem abrir por entre os estragos do orgasmo.
Mas a Elsa não é de se confiar. É enrabada
regularmente, todavia diz que só levou no cu "uma vez" e foi porque o
Roberto "se enganou". "Tinha bebido nessa noite e tinha falado
com uns amigos e mai não sei quê, mas nem chegou a entrar a sério".
"Ele tentou, mas não estava a conseguir... coitado". Mas depois é
comprar geles e vaselina em barda do Intermarché, lá daquela marca deles, para
quê? Ela leva no cu e leva bem. Tem vergonha de admitir porque “o cu não foi
feito para essas coisas”, vá-se lá perceber porquê. E também porque gosta de
deixar no ar que é ela quem manda e ninguém lhe vai ao cu. Há esse lado
reputacional. Mas até se põe de lado quando se senta lá às vezes no café. Às
5as. Que é quando o Roberto sai mais cedo lá da gráfica para ir buscar os
miúdos aos avós. Ela espera-o em casa antes de ele ir buscar os miúdos e pumba!,
incha que é Pacheco! Mas tudo bem. Gostos não se discutem. A nossa personagem
gosta mais de ser atulhada de esporra. A primeira vez foi literalmente fechar
os olhos e sonhar com chantilly. Depois começa a apreciar-se a cena. A perceber-se
as pequenas contracções que indiciam a proximidade da ejaculação. Os olhos
fechados e os músculos tesos. O homem inoperante nas suas lascívias e ela ali,
a beber daquilo, de joelhos, nua, no chão, sem outra regalia que não usufruir
daquele néctar. E depois limpar com toalhitas húmidas da Ausónia. A Elsa também
diz que as usa, mas para limpar o cu. E ainda quer fazer-nos crer que não lhe
rebentam a bilha.
“Look at me”. Haveria um copo de
whisky pousado no canto da minha mesa. Eu só funciono bem com scotch on the
rocks. As a boss should. E só penso em inglês. Com sotaque britânico, que é
mais perverso. As a boss would. Coisas que fazem a diferença. É o principal
elemento distintivo entre um Hans Grüber e um Zé Pequeno, por exemplo. Todo um
universo de classe de distância. E ela tardar-se-ia a contemplar-me agachada
mas olhar-me-ia com aquela pintura esborratada no seus olhos de abandono e eu
apertar-lhe-ia o queixo com firmeza, esborrachando os seus lábios. “Do swiftly
what I tell you!”. A olhar-lhe fixamente nos olhos e boca perfeitamente na
horizontal. Ela iria sentir a frieza do meu anel na sua cara e a frieza da
minha alma nas suas extremidades nervosas. Engoliria em seco, a medo. E depois
haveria um breve impasse que eu iria desfazer. “Remove your clothes”. E ela iria
recompor-se, endireitar-se e, meio titubeante, iria começar a desapertar o botão
cimeiro da sua camisa. “Shoes first”. Eu seria um chefe muito mais implacável
do que a minha imagem suporia. Nos vídeos da empresa apareceria afável, but
that’s only part of the game. Ela não. Ela não sabe fingir. Nem orgasmos. Que
tentaria fingir se soubesse o que são. E falharia. Não seria sucedida e ficaria
conformada com a boca caída e os olhos meio oblíquos chamando por uma
lagrimazita. A Elsa diz que sabe o que são orgasmos. Que as pessoas ficam
“coiso”, “tipo sei lá”. Era esclarecedor para ela. Uma explicação familiar. Era
mais uma para o monte das coisas que são inexplicáveis. Better leave it
unsolved. E a Elsa diz que uma vez tremeu “para aí cinco minutos sem parar, não
sei o que me aconteceu, parecia um boneco da Duracell”. Mas tremer assim é bom?
“Não é aquele tremer de frio, é mais coiso, sei lá, tens como que uma cena
dentro de ti que te atravessa. Mas não é mau. Não é nada mau”. E o Roberto? “O
Roberto o quê?” Como é que ele estava? Estava assim todo excitado e teso e com
vontade de... “Ah, isso aconteceu-me comigo sozinha, o Roberto nesse dia tinha
ido à pesca ou lá o que foi. Não há ninguém que faça tão bem por mim como eu
mesma.”
Se há coisa que a Elsa sabe é
desenrascar-se. Se não há cão, caça-se com gato. É o tipo de gaja que sabe onde
estão as melhores promoções e compra tudo em packs “porque compensa”. Que pede
o bagaço da casa ao dono, sussurrando-lhe cúmplice ao balcão por aquela “pinga
aí que o chefe sabe”. Que compra coisas fora da validade só pelo desconto pois
“os gajos metem sempre uma grande margem nas datas e não há perigo nenhum; já
comi uma mostarda fora do prazo há três anos e estava boa”. Que nunca toma
medidas contraceptivas nos dias imediatos ao fim da menstruação porque “sei
como funciono e nunca me dei mal”. But I couldn’t care less. Right now, you’re
naked. And you’re kneeling before me. You know what to do. E fixaria o meu sexo
empinado uma vez e a ela outra, com um brilho escuro reflectindo-me nos olhos.
E sim, ela saberia o que fazer. Fazia-o bem e como gostava daquilo. Como
saberiam as professoras da catequese a lambona que aquela menina tão pacata e
temente se iria tornar. Bom ambiente familiar. Sem farturas nem vícios. Poucos
namorados. Timidez e recato. Ainda decora o quarto com bonecas. Lê os livros do
top do supermercado. Tem Instagram e algumas fotos de viagens ao estrangeiro.
Agora tem emprego nesta firma. Tem uma vida estável e cumpre tudo, desde as
taxas turísticas às doações aos escuteiros. Não diz uma asneira pior que
“chiça!”. E mama caralhos como o caralho. Paradoxal. Ou talvez não. Such are
the ways of Mother Nature. Ela afagar-me-ia o saco e retocaria as unhas com um
verniz magenta mas nunca me arranharia, ai dela. Ainda assim, eu reagiria:
“gently”. E ela engoliria todo o meu pau duma vez só até eu fazer dlim-dlim na
úvula dela. Ela iria colocar a minha pose sóbria em risco.
Eu não teria este comportamento com
ela em jeito de exploração duma parte supostamente mais fraca. Não, até porque
tenho alguns preceitos morais e sou saudável de espírito. Preferiria encarar
isto como um aproveitar de sinergias e um acréscimo mútuo de valor às nossas vidas, enquadrando
a questão numa linguagem empresarial mais comum para as pessoas que me lêem aí
em casa junto da sua família me compreenderem bem. A win-win situation, em
síntese. Que isto são só dois dias e um deles passa-se em casa para prevenir a
pandemia. E ela mama bem e andava à toa. E eu procuro quem mame bem e por acaso
ela até veio para aqui trabalhar. E ela só me pede para “beber o leitinho todo”
que tanto gosta. E a mim não me custa nada. Custa é ter de roubar comida para
dar aos filhos, os filhos que são nosso farol de esperança neste mundo de gente
má. Isso sim, é degradante. Um mau exemplo para as gerações futuras. Isto não,
são humanos a ser humanos e a fazerem coisas humanas, daquelas boas. É natural
and all that stuff. E somos todos adultos e compreendemos bem que há algum grau
de encenação no nosso sexo, mas se for necessário até usamos uma safe word
entre nós. Então não há problema. It’s consensual between two adults. It’s all
we need. Ela perceberia que a minha cabeça estaria mais rubra, quase acesa, e
que haveria uma dilatação dos vasos sanguíneos; tiraria a minha pila da sua
boca salivosa, esfregaria-a bem diante da sua tromba, schlek-schlek, num
movimento ritmado de punho, abriria o hangar que era a sua boca, esticaria a
sua língua como um tapete e aguardaria ansiosa pelo derrame de sémen, a morna monção
branca como uma pasta santa sobre si.
“Aaaaah, me corro!”, soltaria eu em
espanhol; sim, porque quando tenho orgasmos expresso-me em espanhol. Cosas de
mi juventud. “Oh sí... sííííííííííí! Puta madre! Joder!” E ela a besuntar-se com
a minha langonha, lânguida, satisfeita, meita tão quentinha a jogar dominó nas
suas papilas e a calcorrear todo o seu esófago qual magma até lá baixo ao estômago.
Esporrar-lhe-ia no focinho como um elefante azul numa lavagem de automóveis.
Até de champô lhe serviria. E ela ficaria pelo chão enquanto eu recuperaria a
minha compostura, chupando os seus dedos, lambendo-me a ponta da pila, quase
que diria à espera de mais. Mas como pode haver mais? Achas que isto é uma
nascente? “Get up and get going” é tudo o que terei para lhe dizer. E ela não
levará a mal. A Elsa diz que ela deveria levar as coisas mais a mal. Que não é
para dizer sempre “tudo bem” a tudo. Que a pessoa às vezes deve revoltar-se e
soltar o que lhe vai na alma. Que uma vez uma mulher passou-lhe à frente na
fila e levou os últimos bilhetes para o concerto do Alejandro Sanz e ela nem ai
nem ui e depois nicles, o bom do Alejandro nem vê-lo. “Deves reagir mais, melher.
Ai que atraso de vida!...”. Mas também não se perdeu muito, que o Alejandro é
uma bela porcaria e ela só iria mesmo para a Elsa não ir sozinha. E ela não
leva as coisas a mal, é verdade. Isto uma pessoa tem é que estar em paz. Ser
boa para os outros, sem ressentimentos nem inimigos. É a base de tudo. Depois
alguma coisa há-de se arranjar. Eu ainda a deterei quando ela se abeirar da
porta para sair, segurando-lhe no braço e chegando-me perto dela para ela
sentir o meu aroma masculino. “You’re a whore. And you know it”. Depois pegaria
no casaco que ela se iria esquecer, atirá-lo-ia para o meio do corredor frio e
fecharia a porta com algum estrondo. Ela ficaria no escuro, imóvel por
momentos. Então iria para casa e entreter-se-ia a ver séries e a comer pipocas
daquelas que se compram nos hipermercados e que se se deixam aquecer durante
muito tempo no microondas ficam todas queimadas e grudadas ao invólucro. Eu, na
poltrona do escritório, relaxado, acabaria o meu whisky e lançaria um olhar confiante
sobre a silhueta dos prédios da cidade na noite exterior debruada a luzes e
néons, com um violoncelo lúgubre como som de fundo e a câmara em fade out.